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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Entrevista com o Prof. Carlos Barbosa, do IADE-U: Instituto de Arte, Design e Empresa – Universitário, de Lisboa

A entrevista foi realizada para o Jornal Alpiarcense no dia 13 de Dezembro de 2014, aproveitando a vinda do Prof. do IADE-U ao lançamento do Caderno Cultural dedicado à doçaria tradicional de Alpiarça, onde proferiu uma conferência sobre o tema.

Prof. Carlos Barbosa, do IADE-U
Colocámos-lhe 5 perguntas:
Pergunta 1 (P1). O IADE-U está disponível para estabelecer uma parceria com a Câmara de Alpiarça para projectos locais de desenvolvimento sustentável? Que vantagens vê?
Resposta 1 (R1) - A investigação científica produzida na universidade só tem sido se contribuir para o bem- estar da humanidade.
É sabido que subsiste o interesse pelo conhecimento especulativo, que, embora, de carácter mais restrito é naturalmente, útil para a evolução do ser humano. Mas, paralelamente, a ciência tem investido na investigação aplicada.
É neste contexto que, o Nùcleo de Design para a Sustententabilidade do IADE-U, por mim fundado e coordenado, e, através da linha de investigação científica (ID:Co.Lab) integrado na Unidade de Investigação em Design e Comunicação, se insere.
A sua visão estrutural assenta na filosofia da investigação aplicada, dedicando-se desde há cerca de uma década, a acções relacionadas com as problemáticas da sustentabilidade, numa perspectiva holística, com particular incidência nas áreas do empreendedorismo e da economia social.
Outras Linhas de Investigação do IADE-U desenvolvem, também, estudos científicos em áreas de interesse social, proporcionando contributos para a resolução de problemas junto de diferentes entidades institucionais, empresariais autárquicas.


Tendo em consideração o tipo de acções já implementadas, estabeler uma parceria de cooperação protocolada com a Câmara Municipal de Alpiarça, vem ao encontro da filosofia estatutária do IADE-U, pondo, mais uma vez, em prática as suas competências ao serviço da comunidade alpiarcence, fazendo juz ao seu reeiterado estatuto (revista DOMUS, dezembro de 2014) que o coloca no ranking das 100 melhores escolas de arquitetura e design da Europa.
Vantagens?  Do que foi referido, julgo poder inferir-se que as metodologias científicas podem ajudar a adquirir as competências técnico-profissionais mais eficazes mediante a elaboração de planos de formação abrangentes e a desenvolver, numa dinâmica colaborativa, soluções para problemas reais das pessoas.

P2. Como vê a possibilidade de se estabelecer um protocolo para criar um Centro de Artes e Ofícios (ou outra designação), para o desenvolvimento de competências profissionais? Que vantagens vê?
R2 - Tem toda a pertinência pensar nesses termos, mormente se essa entidade formativa se contextualizar no âmbito dos valores susceptíveis de recuperar e de criar referências identitárias que marquem a distinção nos respectivos mercados e entre os produtos concorrenciais, tendo sempre como pressuposto que a qualidade é um factor diferenciador.
As vantagens de uma instituição com estas características existem, sobretudo se disponibilizar os meios de divulgação das obras e assegurar a evolução através da informação actualizada relativamente às tecnologias, meios de comunicação e aos comportamentos dos potenciais consumidores que determinam as posturas culturais e, consequentemente, novas apetências.

3. É possível criar em Alpiarça um modelo de ensino técnico e profissional que atraia jovens de Alpiarça e da região?
R3 - Este, diria, é o desafio. E, parece-me, só poderá ser levado a bom termo, numa lógica de colaboração e participação dos principais interessados.
É possível criar como é determinante estruturar um plano de formação técnico e profissional que permita exponenciar as características naturais e específicas da região e estabelecer os parâmetros de uma mentalidade empreendedora, que se comprometa com projectos de interesse para a comunidade. E que sejam, naturalmente, atractivos.  
Na minha actividade docente fui, nos últimos tempos, confrontado com algumas atitudes pouco reativas e, simultaneamente, angustiadas por parte dos estudantes.

É evidente que os seus centros de interesse não são imediatamente identificáveis. Tenho para mim que esta geração está profundamente afectada pela fase de transição global e pelas mudanças comportamentais que tal implica. As novas tecnologias e as redes de relacionamento, pessoal e colectivo, terão grande influência na sua perspectiva existencial.
É imperioso sondar os próprios objectivos e ajudá-los a acreditar na vida. Mas como os seus paradigmas são diferentes dos das gerações mais velhas, sobretudo daqueles que detêm o poder de decisão, terão que entender o modo de pensar dos mais novos. Julgo que é um princípio pedagógico, sine qua non.

4. É viável estabelecer em Alpiarça um modelo de desenvolvimento humano assente no conhecimento de artes e de aptidões profissionais baseados no aproveitamento dos recursos endógenos locais e regionais?
R4 - Os processos de desenvolvimento sustentável que visam o bem estar de todas as pessoas, no respeito pela natureza - evitando-se explorar, sem critério, os recursos que proporciona, e assegurando ao mesmo tempo os meios que garantam o equilíbrio ambiental e protejam os habitats próprios da biodiversidade, não só em função da vida da humanidade mas, também, na salguarda dos direitos das gerações vindouras - e na implementação de um sistema económico que proteja a dignidade de todos os seres humanos.

P5. O que é necessário para viabilizar as suas ideias?
R5 - Este projecto só poderá ter sucesso se for assumido como um desígnio da comunidade autárquica, ou seja, por todos e, em particular, por todos aqueles que se sintam capazes de  ser úteis à sociedade, partilhando os saberes adquiridos, o conhecimento aprendido, a experiência vivida, a capacitação formativa, as competências diferenciadas.  
É imperativo que os poderes com capacidade de decisão e meios para investir - sem esquecer as regras básicas do mercado e do retorno financeiro - saibam entender o que, realmente, interessa, para o bem-estar das pessoas, a começar pelo seu próprio. E que saibam, também, como obter e gerir criteriosa e eficazmente, os recursos económicos disponíveis, nomeadamente, as verbas atribuídas pelos fundos da comunidade europeia.
E, sobretudo, acreditar que, apesar das inevitáveis vicissitudes, a consecução de um objectivo que não decorre de um percurso linear, é um factor de felicidade porque resulta de um processo de realização pessoal.

ANEXO À ENTREVISTA:
Marketing de produto associado à imagem de um símbolo de Alpiarça: um exemplo para as embalagens da doçaria tradicional, associadas ao pináculo da Casa dos Patudos.
O trabalho resulta de um trabalho conjunto de alunos/as e professores/as do IADE e foi apresentado no colóquio que acompanhou o lançamento do Caderno Cultural da AIDIA dedicado à doçaria: “A Doçaria Tradicional de Alpiarça. Uma Abordagem…”

Prof. Carlos Barbosa, do IADE-U, no final da sua palestra em Alpiarça, sobre marketing de produto – doçaria tradicional de Alpiarça
Pináculo da Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça


Uma proposta de embalagens para os doces tradicionais de Alpiarça, elaborada por alunos/as e professores/as do IADE-U, inspirada no pináculo da Casa dos Patudos.
Esta é uma de entre várias propostas que em devido tempo serão apresentadas aos alpiarcenses e à Câmara Municipal de Alpiarça.


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