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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DE ALPIARÇA: "Cinema, Tabernas, Profissões. Outros tempos em Alpiarça"

Por: José João Pais
Cinema, Tabernas, Profissões. Outros tempos em Alpiarça

Quando se fala em Alpiarça de cultura, é obrigatório referir as sessões de leituras comentadas que ocorriam nas bibliotecas dos Águias e da Música. Uma pessoa lia um livro e depois era convidada a comentá-lo aos assistentes. Era um tempo em que essas bibliotecas viveram os seus melhores momentos, em que os livros entravam e saíam a um ritmo elevado. Isto era extraordinário num meio essencialmente rural. As pessoas sentiam necessidade de cultura, de saber mais. Liam, comentavam, discutiam, trocavam ideias.
“Por noite chegavam a sair 12 livros da biblioteca” diz Eduardo Geraldes, que logo acrescenta, “as pessoas liam muito e por vezes eram especialmente disputados os livros que vinham por detrás da cortina e que vinham da livraria do Fidalgo, que eram livros proibidos e que por isso não podiam estar na estante. A PIDE chegou a levar muitos volumes daquelas bibliotecas”.
“Um dos homens que mais dinamizou a biblioteca dos Águias na década de 40 foi o Raul Feijão “Barbeiro”, que era de uma dedicação sem limites, como ele houve muito poucos”, conta Manuel José Raposo.
Mas antes disso, um outro acontecimento fizera furor em Alpiarça e que marcou significativamente a década de 20 - a projecção dos primeiros filmes. Data de 1925 a instalação de um “animatógrafo” (cinema) no Teatro Club de Alpiarça, que passou a chamar-se “Cinema, Recreio do Povo”. É inaugurado em 19 de Abril, com a projecção de um filme de séries com o título de “ Mãos de arminho”, constituído por 8 episódios, um sistema muito em voga na época. O cinema passou a ser mais uma alternativa para as noites de Sábados e Domingos. Até então, só um ou outro bailarico e as tabernas eram opção para os homens. De facto existiam muitas tabernas em Alpiarça, ou não fosse esta uma terra onde o vinho era uma das principais fontes de riqueza.
A taberna, ou “venda”, era o lugar por excelência, das conversas, das confraternizações, das discussões, onde tudo se sabia, onde toda a notícia se propagava. Mas era também lugar de conspiração.
Recordemos o nome de alguns “taberneiros” desta época: - José Malhou Júnior, que vivia na Travessa da Boa Vista; António Bernardes Mendes, na Rua Direita; Joaquim Isidoro Lagarto e José Cunha, ambos na Rua de Traz da Igreja; Joaquim Geada, na Rua do Pinhal; João Magalhães, no Outeiro do Carvalhal; Francisco Arraiolos Saturnino e António Marques da Silva Pinhão, ambos na Rua Direita, onde também se situava a Brasileira” de Alfredo Coimbra, que ainda hoje ostenta o mesmo nome. Existia também a taberna da Emília Anifa, mulher do Manuel Canoso, onde também se vendia pão feito no local. Mais além era a taberna do Joaquim Farinha, no Outeiro da Fusca e também a do José Gonçalves Lobeiro, na Rua da Amoreira. Mas talvez uma das mais antigas tabernas de Alpiarça fosse a do Manuel “Fausto”, localizada na Rua do Bocage. Tão conhecida e frequentada era também a do Calado e do Marreco, que estiveram de portas abertas até há poucos anos. Aqui muitos alpiarcenses, em finais da década de 50, viram pela primeira vez emissões televisivas, numa esplanada no interior das mesmas, cujo “telhado” era uma espécie de sombreiro. “Era um silêncio enorme, até os bêbados se calavam quando começavam os programas, que eram a preto e branco”, diz Ambrósio Raposo.
E já que estamos em matéria de curiosidades da vida local nesta década de 20, refira-se que havia 5 pessoas com automóveis, ou com motas dotadas de side-car, registados em Alpiarça, eram elas: Joaquim Silva Barreira, Dr. João Maria da Costa, José Nunes Pedro, José Relvas e Manuel José Coutinho.
Vem também a propósito recordar algumas profissões, algumas delas já desaparecidas, bem como os nomes das pessoas que as exerciam, ainda nesta década de 20 em Alpiarça:
Albardeiros: - Florêncio Miguel e Joaquim d`Oliveira.
Alfaiates: - Adriano Maria Granate, António Silva Dores, António Hipólito dos Santos, Joaquim Silvério e José Valério
Barbeiros: - Armando Vicente Alves, Artur Rodrigues, João Lopes, João Vicente Noronha e Júlio José dos Santos
Oficina de canteiro: - António Dias Guiomar
Carpintarias: - António Gargalo, António Maçarico, João Silvério, José Fidalgo, José Silvestre, Josué Rodrigues Pestana, Manuel Martins e Vasco Ferreira de Oliveira
Carro de aluguer para passageiros – charretes – Barnabé Calado, Joaquim Calado, Joaquim Lourenço Fernão Pires, Joaquim da Silva Pratas, José Coelho, José dos Santos Duarte.
Casa de Pasto: - António Lourenço Fernão Pires
Ferradores: - Feliciano Farinha e Jacinto Maria Nunes
Hotéis: - José da Silva Coelho e José Rato
Latoarias: - Viúva de Anselmo Catela e Renato Pinhão
Médicos: - João Maria da Costa, Joaquim de Matos Coutinho e Joaquim Romão
Modistas: - Amélia Melgado, Maria Janeiro, Maria Piedade Campos, Maurícia Fidalgo e Miquelina
Fabricantes de pão de milho: - Emília Alcobia, Emília da Sesmaria e José Gameiro
Parteira oficial: - Gertrudes Machado
Salsicharias: - António Lourenço Fernão Pires, Emílio Ramos, Joaquim António Martins, Joaquim Dias Cabelo, Joaquim Lourenço Fernão Pires, Manuel Dias, Viúva de Manuel Pereira e Maria da Conceição
Serralharias: - Augusto Rodrigues da Silva, José da Costa, José Nunes Pedro e Manuel Marques
Talho: - Joaquim Martins
Sociedades de Recreio: - Clube Alpiarcense e Teatro Clube
Professores oficiais: - Benvinda Lopes de Faria, José Carlos Miguel, Maria Freire de Andrade e Maria Isabel
Farmácias: - Abílio Freire Gameiro e Estêvão Gomes
Tanoarias: - João Canha, José Rodrigues da Silva, Manuel Rodrigues da Silva e Boaventura Nunes Canha. Este Boaventura Canha ainda tinha uma particularidade muito especial, “lia as mãos” e adivinhava o futuro, pelo que era muito procurado para fazer as suas previsões. Para as mulheres começava sempre “é boa dona de casa, muito asseada e séria”, e os homens “tinham tido sempre muito sucesso com as mulheres”, “isto dito logo no início da consulta, todos gostavam de ouvir; quem é que não gostava de ser lisonjeado, por isso os clientes ficavam com maior capacidade de recepção às previsões seguintes”, refere António Barata Fragoso.
Vida, comércio, actividade, era o que não faltava em Alpiarça nos anos 20 do século passado. Também muita pobreza, é bom não esquecer. O pós-guerra foi muito doloroso em todo o país. Aqui não foi excepção. Mas a vida comercial e cultural fervilhava.

4 comentários:

Diogo Fernão Pires disse...

Bom dia

Quero desde já agradecer por ter encontrado o tetravô (creio que não me enganei na definição familiar) Joaquim Lourenço Fernão Pires - Em data e local (alpiarça), sendo que tinha um filho (Jacinto) que faleceu algures para o final da decade de 20, sendo que o meu avô Joaquim Afonso Fernão Pires, foi criado por ele. Como disse, o espaço temporal e local bate certo.. a questão que ponho, se me puder ajudar, é como posso eu descobrir mais sobre o meu tetravô, se a câmara de Alpiarça terá mais algum registo?

Atenciosamente,

Diogo Fernão Pires

Victor Fernandes disse...

Amigo e talvez familiar? eu procuro a família Fernão Pires, mas ao que compreendo derivado a vários contactos há vérias familias Fernão Pires, A minha avó era Mariana Rodrigues Fernão Pires, esse dito Joaquim Lourenço Fernão Pires foi uma personagem da Republica, segundo me dizia minha avó eram primos...Continuo à procura, a minha idade já não me permite ir à Torre do Tombo é lá que estão todos os dados que precisamos dessa data...ou então em Santarem no Distrito, não sei onde é .

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.