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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Quando é que nasceu Jesus Cristo?

Por: José João Pais

Agora que estamos prestes a chegar ao Natal, supostamente a data de nascimento de Jesus Cristo, será interessante abordar este tema de uma forma científica e histórica, de modo a conseguirmos uma resposta razoável para a pergunta que apresentámos em título.
Monsenhor Giuseppe Ricciotti, no seu livro “Vida de Jesus Cristo”, escrito em meados do século passado, refere o seguinte: “Não sabemos, com certeza absoluta, o dia nem o ano do nascimento de Jesus...nem o dia, nem o ano da sua morte”. O Papa Bento XVI, no seu último livro, trouxe, de novo, o tema a público. Acabou, afinal, por ser um elemento acessório, a presença da vaca e do burro no presépio, aquilo que mais alimentou as notícias nos jornais.
Esta dúvida, relativamente à data do nascimento, poderá até parecer estranha quando se sabe, através dos evangelistas, muitos pormenores sobre a vida de Jesus. Todavia não existe uma biografia. A preocupação essencial era demonstrar que Jesus era o Messias de que falavam as Escrituras e não tanto em apresentar uma cronologia da Sua vida. Mas encontramos elementos suficientemente datados para apontar uma data com uma margem de erro máxima de 3 anos.
Temos então vários fatores, tanto de ordem história, como de ordem meteorológica, como ainda de natureza astrológicas, a ter em conta: O recenseamento de Quirino; a data da morte de Herodes o Grande e a chamada “estrela” dos Magos.
Falemos de Herodes, o Grande. Era um judeu edomita que reinou em Israel até ao ano de 750 da era romana, ano 4 antes de Cristo, segundo o nosso calendário. Sendo verdade que Jesus nasceu “no tempo do Rei Herodes”, isso só pode ter acontecido antes da morte de Herodes, como é evidente. Assim, por mais paradoxal que pareça, aparece-nos Cristo nascido...antes de Cristo.
Vamos tentar deslindar “o segredo”, para este engano. Explica-se em duas ou três palavras. 
Com a crescente importância do Cristianismo na Europa, o Papa João II, em 533 da nossa era, encarrega um monge erudito, de nome Dionísio, de encontrar a data exata do nascimento de Jesus. Era uma missão importante, pois essa data passaria a constituir o início de uma nova era para a Humanidade, que é que está hoje em vigor. Segundo o calendário actual as datas são determinadas com referência ao nascimento de Jesus. Por isso temos datas de antes de Cristo e depois de Cristo. Quando Jesus viveu usava-se o calendário romano. Dionísio vai basear as suas pesquisas no evangelho de Lucas, mais concretamente no início da pregação de João Batista, que teve lugar “no ano 15 do governo do Imperador Tibério”, ou seja, segundo o calendário romano, no ano 782 (Carmo, 2001, p. 110). Acontece que todos os evangelistas colocam o início da vida pública de Jesus na altura do seu batismo por João, o que ocorreu um ano após este ter começado a sua actividade, em 783. O próprio Lucas refere que “quando Jesus começou a sua actividade, tinha cerca de 30 anos”. Com estes dados na mão, Dionísio faz uma conta muito simples, tira 30 anos àquela data (783) e fixou o ano do nascimento de Jesus em 753 da era romana e aí começou o ano zero da nova era. O monge enganou-se. De facto, se Jesus vive no tempo de Herodes, como está provado, e este morreu em 750, como também está provado, Jesus não poderia ter nascido em 753, mas sim, pelo menos 3 ou 4 anos mais cedo. Na realidade, considerando que Jesus nasceu pouco tempo antes da morte de Herodes, esse facto coloca-nos, assim, numa data anterior a 4 a. C. 
Relativamente ao recenseamento de Quirino e a sua relação com o nascimento de Jesus, podemos dizer o seguinte: Lucas, no Evangelho que tem o seu nome, diz que “por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. Todos iam recensear-se...também José...com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida. E quando ali se encontravam completaram-se os dias de ela dar à luz”. De facto, existe notícia de um recenseamento que decorre nesta zona em 8 antes de Cristo conduzido por Quirino que aqui estava, como legado do Imperador. Como o recenseamento era essencial para a recolha de impostos, os Judeus puseram-lhe muitos entraves, pelo que ele só se terá concretizado em 7 a.C. Assim, se Jesus nasceu durante o recenseamento de Quirino, como as fontes históricas indicam, isso só seria possível se Ele tivesse nascido por volta do ano 7 a.C. 
Alguns historiadores referem que o recenseamento terá ocorrido entre 10 e 24 de Agosto. Ora, segundo os relatos bíblicos, José fez o recenseamento da sua família no dia seguinte ao nascimento de Jesus. Por outro lado, a apresentação dos bebés no templo, bem como a purificação das mulheres, deveria ocorrer até aos 21 dias após o parto, conforme preceituava o ritual. Segundo os registos locais Jesus foi apresentado no templo a um sábado do mês de Setembro. O mês de Setembro do ano 7 a. C. teve 4 sábados que ocorreram nos dias 4, 11, 18 e 25. Assim sendo, Jesus teria sido apresentado a 11 de Setembro, o que nos remete para o seu nascimento para um pouco depois do dia 21 de Agosto do ano 7 antes de Cristo. 
Outro factor a considerar é de natureza astronómica. A chamada “estrela dos Magos” não teria sido mais que a sobreposição dos planetas Júpiter e Saturno. No ano de 7 a. C. estes 2 astros teriam estado, excecionalmente, no enfiamento de um com o outro, parecendo um só astro de grandes dimensões e brilho. Esta situação ocorreu por 3 vezes neste ano, em 29 de Maio, 3 de Outubro e 4 de Dezembro e sempre na constelação de Peixes. Este acontecimento está confirmado arqueologicamente em inscrições cuneiformes decifradas em 1925 pelo alemão Schnabel. Ora, para os astrólogos da época, a constelação de Peixes correspondia a Israel e era o sinal do desejado Messias, Júpiter era o astro da realeza e Saturno o protector de Israel. Os astrónomos caldeus acreditam então o aparecimento daquele astro brilhante, naquele momento, revelava o nascimento, em Israel, do Messias há muito aguardado. Partiram da Mesopotâmia durante a 2ª conjugação (3 de Outubro), quando o tempo mais é suave naquela zona e mais apropriado para uma longa e difícil viagem. Foi na conjunção de 4 de Dezembro que os ditos Magos (na realidade eram os sábios que viviam na Mesopotâmia e se dedicavam à astronomia) avistaram, de novo, aquilo que pensavam ser uma “estrela” (como vimos era a conjunção perfeita de Júpiter e Saturno). Estavam então em Belém. Conseguiram encontrar Jesus, que acreditaram ser o Messias de que as escrituras falavam, face aos indícios que consideram como sendo um sinal. Ora, se José iniciou a fuga para o Egipto logo após a visita dos Magos, certamente que a deslocação da família ao Templo de Jerusalém para a cerimónia de apresentação da criança e da purificação de Maria teria ocorrido antes de 4 de Dezembro (altura da visita dos Magos). Segundo a lei de Moisés esta apresentação após o nascimento, se fosse um filho varão, como era o caso, teria que ser feita até cerca de 40 dias após o nascimento. Então, se subtrairmos 40 dias à data da chegada dos Magos a Belém (por volta de 4 de Dezembro), concluímos que Jesus não poderia ter nascido depois de 25 de Outubro, talvez mesmo em Setembro, o que nos aproxima de outras datas que já mencionámos. De resto, Lucas conta-nos que durante a noite de Natal “havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda aos seus rebanhos”. Esta situação só poderá ter ocorrido entre Março e Novembro quando as temperaturas são mais amenas. A partir desta data as temperaturas baixam muito, pelo que os rebanhos estarão já resguardados em estábulos e não no campo. É crível, pois, que Jesus tenha nascido algum tempo antes do mês de Novembro.
Então como aparece o dia de 25 de Dezembro como sendo a do Seu nascimento?
A data surge em meados do século IV. Como não se conseguia saber a data exata do nascimento de Jesus, o Papa resolveu adotar a de uma festa pagã, prática usual na altura. Escolheu uma data próxima do solstício de Inverno, altura em que os Romanos celebravam o deus Mitra. Já haviam sido propostas outras datas, como o dia 19 de Abril, apresentada por Clemente de Alexandria, ou ainda 29 de Maio, mas foi aquela que vingou. 
Concluímos, dizendo que este é um assunto com várias teorias, mas que não andam muito longe umas das outras, como vimos. Existe, todavia, um bom suporte documental apoiado por escavações arqueológicas. É possível, pois, que Jesus tenha nascido antes do dia 25 de Outubro, (talvez em meados deste mês ou em Setembro, ou até Agosto) do ano sétimo “antes de cristo” (Carmo, 2001, p.113). 

Bibliografia consultada. Carmo, António, Antropologia das Religiões, Uab, Lisboa, 2001
Webgrafia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Nascimento_de_Jesus

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