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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O golpe de Estado alemão

O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, defendeu esta semana que os orçamentos nacionais possam ser vetados pelo comissário europeu dos Assuntos Financeiros. Ou seja, o ministro alemão defende que alguém não eleito se possa sobrepor aos representantes eleitos de um povo. E que seja ele a decidir o mais importante instrumento político de um País, decidindo, independentemente da vontade dos cidadãos, o que será feito com o seu dinheiro. E isto num momento em que vários países assistem a um autêntico assalto fiscal.

"No taxation without representation", foi o mote para o que viria a ser a revolução americana. O que Schäuble propõe, e é coerente com o que a Alemanha tem defendido, é um golpe de Estado contra as democracias, criando uma junta de tecnocratas que retira à democracia representativa uma das suas principais funções: determinar o que se faz com os recursos de uma comunidade. Não há duas formas de dizer isto: o poder alemão quer destruir as bases fundamentais das democracias europeias. Em vez do federalismo democrático, em vez dos eurobounds e de uma integração cambial e financeira com pés e cabeça, defende uma ditadura orçamental que torne os cidadãos europeus em súbditos. Em contribuintes sem o direito de decidir o que fazer com os seus impostos.

A posição alemã, ao contrário do que aconselham todas as evidências, continua a apostar na redução da dívida dos países europeus (muito inferior à de grande parte dos grandes blocos económicos), e não no crescimento. E nem a probabilidade de rebentar com a Grécia, fazendo, mais uma vez, cair ali a primeira peça do dominó europeu, travará Merkel e o seu ministro. Recusam um prazo suplementar para os gregos, proposto pelo FMI. A Alemanha aposta no seu crescimento económico à custa de uma hecatombe económica da Europa (aposta que, como no passado, lhes sairá cara) e não está disposta a parar perante nenhum obstáculo. Nem perante as regras da democracia.

Não se trata de nenhuma posição anti-allemã. É apenas uma constatação de facto: a Alemanha, que já foi um dos principais motores da construção europeia, é hoje a principal inimiga da Uniãõ Europeia. E nas suas cada vez mais indisfarçáveis tentações imperais põem em risco as democracias dos países europeus, o euro, a União e, com tudo isto, sessenta anos de paz. Travar a cegueira alemã é obrigação de todos europeístas e democratas, na Alemanha e em toda a Europa. Antes que seja tarde.
Fonte:Expresso

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