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sexta-feira, 27 de abril de 2012

FOI ASSIM QUE SEMPRE CONHECI ESTE ACONTECIMENTO: "Guernica"

Bombardeio de Guernica, que inspirou obra-prima de Picasso

Por Gilbert Grellet

 Símbolo da bárbarie militar, a destruição, há 70 anos, do pequeno povoado basco de Guernica (Guernika, em euskera, dialeto basco) pela força aérea nazista, que inspirou a obra-prima homônima do pintor Pablo Picasso, continua gerando polêmica neste início de século XXI.

No dia 26 de abril de 1937, o povoado de 6 mil habitantes era bombardeado pelos aviões da Legião Condor da aviação alemã, em apoio às forças nacionalistas do general Francisco Franco, meses após o início da Guerra Civil espanhola (1936-39).

O bombardeio às cegas, ao cair da tarde, num dia de mercado, provocou incêndios que destruiram três quartos da cidade, e deixou centenas de mortos.

E foi assim que Guernica, base histórica do nacionalismo basco que queria derrubar Franco, se converteu na primeira cidade da História destruída por um ataque aéreo direcionado contra alvos civis.

Dois dias depois, o jornalista inglês George Steer denunciava a "tragédia" de Guernica em um célebre artigo publicado na capa do The New York Times, mas que só saiu na página 17 do Times londrino.

Steer descrevia os ataques rasantes dos Junkers e Heinkel alemães que descarregaram sobre Guernica milhares de bombas, a maioria incendiárias, antes de metralhar os moradores que escapavam dos incêndios.

Os nacionalistas acusaram imediatamente as forças republicanas de ter incendiado a cidade, argumento de propaganda durante muito tempo repetido pelos meios de comunicação e círculos conservadores da Europa.

Posteriormente, quando se viram contra a parede, os franquistas atribuíram a responsabilidade pelo massacre aos alemães, que por sua vez afirmavam que só pretendiam bombardear uma ponte e uma fábrica de armas nos arredores de Guernica.

Entretanto, nem a ponte, nem a fábrica foram alcançadas pelas bombas.

Pesquisas históricas, em particular uma extensa investigação feita nos anos 70 pelo jornalista inglês Gordon Thomas, permitiram confirmar que o bombardeio fazia parte de uma "estratégia de terror" idealizada pelos franquistas em parceria com seus aliados nazistas.

O general golpista Emilio Mola, que comandava a ofensiva contra os republicanos no norte da Espanha, havia explicado claramente que sua intenção era "arrasar Vizcaya" e terminar rapidamente com a guerra na região.

Mesmo diante dessas evidências, o drama ainda é minimizado em algumas esferas da direita no país, em uma Espanha que ainda não se esqueceu de uma sangrenta guerra civil que deixou mais de meio milhão de mortos.

Em um recente e bem-sucedido livro sobre a Guerra Civil, intitulado "La Guerra que ganó Franco" (A Guerra vencida por Franco, numa tradução literal), o historiador conservador César Vidal qualifica o bombardeio de Guernica como um "episódio menor" que serviu como pretexto à Frente Popular (esquerda) para denunciar "a barbárie fascista".

Segundo Vidal, o bombardeio de Guernica "superou por pouco uma centena" de mortos devido à "lamentável incompetência" das autoridades locais, incapazes de "construir abrigos" ou de apagar os incêndios.

Em seu artigo, Steer fala em centenas de vítimas, enquanto as autoridades bascas indicaram, em um primeiro momento, que o bombardeio havia provocado 800 mortos. Mais tarde, elevaram esse número para 1.654 vítimas fatais.

As estimativas dos historiadores variam entre 300 e mil mortos.

Pablo Picasso nunca duvidou da origem e magnitude dessa tragédia, que retratou em sua célebre tela de 1937, batizada com o nome do povoado bombardeado.

"Vocês fizeram isso?", perguntou algum tempo depois, em Paris, o embaixador alemão Otto Abetz ao autor da obra. "Não, foram vocês", respondeu Picasso, que destinou os lucros das exposições de "Guernica" à causa republicana.
Enviado por: Gabriel Tapadas Marques

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