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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Discurso integral que o Dr. Ramalho fez nas "Comemorações do 25 de Abril"


 Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça,

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça,

Exmos. Senhores Vereadores,
Exmos. Senhores Deputados Municipais,
Reverendíssimo Pároco da Paróquia de Santo Eustáquio de Alpiarça,
Minhas Senhores e Meus Senhores,
 
Comemoramos nesta ocasião o trigésimo oitavo aniversário da Revolução libertadora do 25 de Abril de 1974. Trinta e oito anos significam uma idade madura em que já é possível fazer um balanço significativo das opções nacionais tomadas durante a juventude do processo revolucionário. Como em qualquer jovem houve, devaneios, ilusões e a tentação de seguir caminhos indicados por falsos profetas dos amanhãs que cantam. A tempo, com coragem, inteligência, determinação e amor pela liberdade e pela pátria esses devaneios foram sendo corrigidos por aqueles que souberam guiar a revolução por bons caminhos. Nunca é de mais lembrar nesta ocasião o insigne português que se chama Mário Soares, que mais uma vez, numa conjuntura difícil, nos chama à defesa da liberdade e dos valores de Abril.

Em primeiro lugar, dos bons caminhos que a revolução tomou, temos de referir a instituição e consolidação de uma República Democrática, não apenas de nome (como muitas farsas que existiram e continuam a existir), mas real e com expressão concreta: com eleições livres e justas, com liberdade de expressão e com um poder local forte e disseminado.

Em segundo lugar assinalamos a opção pela integração no espaço da europa livre como garantia de perenidade da democracia, de desenvolvimento social e económico, de justiça e de liberdade. A integração europeia de Portugal revelou-se uma opção essencial no nosso destino coletivo. Todos os Estados europeus que saíram de ditaduras brutais e sanguinárias do antigo bloco de leste e que iniciaram o trilho democrático tomaram também esta opção, decidindo compartilhar com os demais povos europeus o seu futuro. Deve ser salientado o pioneirismo do 25 de Abril como farol de liberdade para a Europa. Foram muitos os que tiveram em Portugal um exemplo de que era possível sair de uma ditadura, vencer os obstáculos totalitários e promover o desenvolvimento económico num quadro de estabilidade social.

A História há-de reconhecer o papel visionário de Mário Soares, de Carlos da Mota Pinto e de Freitas do Amaral na persistência com que conduziram o país à integração europeia. Ao contrário de outros, como é o caso do atual Presidente da República, na véspera da assinatura dos tratados ainda hesitavam. Se hoje não estamos bem, como estaríamos se tivéssemos optado por não integrar o projeto europeu?

A situação da Europa é hoje substancialmente diferente daquela que encontrámos na altura da adesão de Portugal. O modelo europeu caracterizava-se por um estado social de direito baseado na solidariedade entre gerações e entre Estados. Devido à crescente influência do capitalismo financeiro e de cartilhas politico ideológicas ultra liberais, à globalização com emergência de novas economias competitivas, à fraca natalidade, à falta de lideranças fortes, entre outros motivos, atualmente o Estado social está em crise por toda a Europa e os egoísmos nacionais surgem por todo o lado. Nesta altura de crise profunda é a hora dos socialistas e dos cristãos democratas europeus se unirem e de novo impulsionarem a construção solidária da Europa. Já começamos a sentir o aparecimento de resistência forte à situação atual. É tempo de acabar com a dormência e resignação que acometeu toda a esquerda democrática europeia. É necessária a emergência de novos valores que ponham o homem acima do capital e de novas politicas que regulem os mercados e ponham travão à soberba e à falta de ética.
Desgraçadamente, em Portugal assistimos a uma tentativa da direita mais radical na destruição deliberada de todo o Estado social muito para além do que os constrangimentos financeiros exigiriam. O governo anterior, do PS sempre teve presente que a diminuição na proteção social não podia ultrapassar certos limites. Hoje estes limites já foram ultrapassados em muito e não são temporários. Por vontade dos governantes serão definitivos e não se ficarão por aqui. Alguém pensa que seria possível a um governo do PS roubar aos trabalhadores dois salários ou retirar o direito adquirido a uma reforma merecida?!
   
A liberdade que hoje festejamos só faz sentido num quadro de respeito pela dignidade do ser humano. Nem só de pão vive o homem, mas sem pão de pouco serve a liberdade. É preciso garantir a sobrevivência digna de todo o ser humano. É preciso garantir a igualdade de oportunidades e o acesso de todos à justiça e ao saber.

A defesa da liberdade é ainda mais necessária num quadro de grave crise económica como o que vivemos. Como todos sabemos é nestas alturas que se forjam e reforçam os piores atentados à dignidade da pessoa humana. Os maiores atentados à liberdade foram gerados pela crise das democracias liberais do Século XIX. É fácil acreditar naqueles que tudo prometem: aumentar salários, pensões e reformas, serviços de saúde e ensino grátis para todos, etc, etc. sem que expliquem como o irão fazer. Uma vez no poder, a primeira coisa que fazem é impor uma brutal ditadura que calará todos os que ousarem protestar contra a miséria que fatalmente se seguirá. Então, será decretado que todos estão felizes e contentes e os que não concordarem é porque sofrem de doença mental.

Respeitar a liberdade de todos e de cada um é reconhecer que todos têm o direito fundamental de defender as ideias em que acreditam. Também todos têm o direito de mudar de opinião, sem que por isso sofram represálias ou sejam ostracizados. Hoje, por deliberação da AM, homenageamos dois alpiarcenses pela sua coragem e pelos sacrifícios que fizeram em nome da liberdade e da justiça social. Manuel Vital e João Sanfona em determinado momento das suas vidas concluíram que os seus valores não eram os mesmos que os do coletivo e, infelizmente, passaram pelo que todos sabemos.

Que em Alpiarça haja sempre a liberdade para mudar de ideias!
 
Viva o 25 de Abril!
Viva Alpiarça!
Viva Portugal!

Foto: CMA
NR: “Jornal Alpiarcense” solicitou os discursos integrais das restantes forças politicas para fins de publicação Até à data ainda não nos foram enviados.
Apenas o PS  e o PSD nos concedeu os seus “discursos”


 

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