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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Talentos que saíram de Portugal falam em inevitabilidade mas também em riscos

Jovens gestores formados em Portugal e atualmente a trabalhar no estrangeiro, concordaram que a emigração é hoje uma das saídas para a crise do emprego em Portugal mas alertaram para os riscos, a longo prazo, desta fuga de talentos.
Em declarações à Agência Lusa à margem de um encontro de antigos alunos de economia e gestão, atualmente em cargos de topo, promovido pela Católica Porto Business School, três emigrantes qualificados deram o seu testemunho sobre a opção de saída de Portugal, numa semana em que as declarações do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, sobre a emigração de professores desencadearam a discussão na opinião pública sobre o tema.
João Araújo, 24 anos, analista de indústria para o mercado automóvel da Google, em Londres, Reino Unido, concorda que a emigração “não é a única saída mas é uma saída”, compreendendo “que as pessoas vejam com algum azedume” as declarações governamentais apesar destas não serem “mentira nem falsas”.
“Há muitas oportunidades lá fora. Há vários países que são interessantíssimos, há vários setores que estão a crescer, que estão a recrutar e portanto temos que olhar para esta crise, perceber quais são as áreas que estão a crescer, lutar e sair da nossa zona de conforto”, defendeu, acrescentando que “os portugueses qualificados são muito bem vistos lá fora”.
Já Rui Barros, de 34 anos, a trabalhar atualmente no Standard Bank, em Moçambique, considerou que “gerir um país, assemelha-se, especialmente em situações de crise, a gerir uma empresa”, salientando que “efetivamente Portugal não consegue neste momento oferecer oportunidades que a população procura localmente e, portanto, alguns recursos têm que ser alocados noutros” países.
“Esta mensagem, nas últimas semanas, tem tomado um tom muito negativista que traz a Portugal aquilo que nós não precisamos. Portugal precisaria mais de uma onda positiva e efetivamente a discussão pública que se tem assistido acaba por prejudicar o espírito da nação”, lamentou.
Por seu lado, Luís Folhadela, 39 anos, a trabalhar no BFA, em Angola recordou que, historicamente, em Portugal “a emigração é um mecanismo natural de ajustamento que a economia portuguesa” tem.
“O grande sustentáculo da economia portuguesa neste momento é realmente a capacidade de exportação, não apenas de talentos mas das próprias empresas portuguesas. (…) infelizmente, tendo a concordar que nesta altura me parece que é quase inevitável que a emigração surja”, declarou.
Luís Folhadela considerou, no entanto, ser “dramático esta emigração mais qualificada”.
“Este evento onde estamos é de uma escola de prestígio, de uma das melhores da Europa e constatamos que há uma grande parte dos nossos colegas que saem diretamente desta universidade e que o país não consegue aproveitar”, lamentou, acrescentando que “enquanto a sociedade portuguesa não for capaz de criar mecanismos que lhe permitam reter os talentos, inegavelmente estamos condenados a ser um país que vê, recorrentemente, perder talentos”.
Já Rui Barros defendeu que “Portugal, como qualquer outro país, sempre esteve exposto ao risco da fuga de talentos por via da globalização e não por via desta crise”.
“Esta crise pode potenciar a atenção com a qual os quadros olham lá para fora mas efetivamente a globalização foi quem veio abrir as portas”, explicou.
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