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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Associação reúne mulheres ligadas à «terra-mãe»

O sector agrícola é, tradicionalmente, dominado por homens. Mas estes estão, cada vez mais, a abandonar a terra. As mulheres, por sua vez, estão a traçar um caminho na agricultura. Quem o diz é Mónica Silva, membro da Associação das Mulheres Agricultoras e Rurais Portuguesas (MARP), que lembra que a «feminização» do sector começou na década de 1980. Na altura a actividade agrícola assumia um cariz «marginal e desprestigiante». As mulheres têm assumido um papel ascendente no mundo rural. Mónica Silva, responsável de projectos da MARP, explica que a associação que integra nasceu da necessidade «sentida pela generalidade das mulheres - agricultoras, técnicas ou com qualquer outra ligação ao Mundo Rural - de se organizarem para intervirem na defesa dos seus direitos».
Defender os interesses das mulheres agricultoras e rurais e promover actividades que visem a transformação do sector «numa área mais vasta de trabalho» são alguns dos objectivos.
«É importante perceber que o sector rural é a base da economia e que, por isso, é premente a necessidade de o estimular de forma a permitir o seu adequado desenvolvimento e competitividade», explica.
Ao longo de vários anos, recorda a responsável, a MARP colaborou em acções de sensibilização nas áreas da Educação Ambiental, Agricultura Biológica, Produção e Transformação de Plantas Aromáticas, Medicinais e Condimentares. «Ainda hoje existem actividades associadas que produzem licores, azeites aromatizados, compotas. A maioria dos destinatários era mulheres», salienta Mónica Silva.
«Mulheres com uma forte ligação à terra-mãe, com fortes laços maternais, defensoras do património cultural e imaterial das suas freguesias, mas com uma vontade de se tornaram mais autónomas e independentes, de forma a também contribuírem para o orçamento familiar», acrescenta.
A crescente importância das mulheres:
Por outro lado, explica, «as infra-estruturas sociais e físicas no Interior, não existem. Não há creches nem infantários, não há centros de dia, não há transportes».

Sendo a desertificação uma realidade nestas regiões «ou se encontram caminhos alternativos que tornem a vida económica e social atractiva e rentável, ou teremos a curto prazo a maior parte das aldeias transformadas em verdadeiras “aldeias fantasmas”», alerta Mónica Silva.
«Um dos caminhos que pode contribuir para a alteração desta situação, é a diversificação das actividades, nomeadamente aproveitando recursos até hoje postos de lado como as artes e ofícios tradicionais (produção e tecelagem de linho, lã, sedas, algodão, etc.), produção e transformação de plantas aromáticas, produção de cogumelos em meios naturais, mel, fumeiros, queijos, compotas, licores, entre outras actividades», considera.

A responsável garante, por isso, que a experiência da MARP «é o trabalho que desenvolve há longos anos nas associações de agricultores e que esperamos, sinceramente, contribuir para que a vida das mulheres e jovens, do País Rural, tenha uma melhor qualidade».

Com a necessidade de fazer face aos contextos laborais das áreas rurais, as mulheres, desde há muito, «assumiram como seu o trabalho agrícola e a sua rentabilidade. Este processo de “feminização” da agricultura iniciou-se na década de 1980, onde a actividade agrícola assumia um cariz secundário, marginal e até desprestigiante e, por isso, os homens deixaram as mulheres à frente das suas explorações», conta Mónica Silva.
E reforça a ideia de que actualmente «existem bons exemplos de mulheres a liderar grandes explorações agrícolas, fruto de uma formação académica superior e de uma visão mais empresarial da agricultura».
Sobre o estado actual do sector, a técnica da MARP, afirma que o percurso económico de Portugal deve «apoiar-se na produção agrícola nacional, na auto-sustentabilidade do País e na nossa soberania alimentar».
«Novos povoadores»:
Na conjuntura nacional, afirma que o sector apresenta-se como uma «porta de oportunidades e um forte teste à capacidade dos nossos produtores de se adaptarem a novas formas de comercialização».
«Nunca como hoje a agricultura assume um papel tão excepcional no desenvolvimento do País. O conceito de diversificação das actividades agrícolas tem que ser adjuvado por um sector moderno, informado, jovem e apoiado pelo Estado e pelas empresas do sector», sustenta.

«É necessário criar condições para que estes meios rurais surjam como locais atractivos à fixação de novos “povoadores”. Todos ambicionamos ter qualidade de vida e o fraco investimento particular e institucional, nomeadamente do Estado, nos meios rurais precipita a falência do modelo agrícola actual, onde a agricultura é pouco produtiva, subsidiaria, limitada e envelhecida», sublinha.

Actualmente a MARP é parceira na implementação na região Norte do Projecto PROVE – Promover e Vender, onde tem duas associadas como produtoras Prove - em Paredes e no Porto.
Dos vários projectos da MARP, salientam-se o ‘Projecto Rumo XXI’, que assenta em dois eixos principais: «o da igualdade, sobretudo de género, nomeadamente promovendo a participação das mulheres na vida activa, partindo da valorização dos produtos agro-pecuários tradicionais».
«Associado ao mundo rural encontram-se produtos bastante procurados, com uma clientela emergente, que procura produtos tradicionais de qualidade. Nesse sentido o saber-fazer assume aqui um marco muito importante. Para a valorização dos produtos agro-pecuários tradicionais», realça.
Além disso, a Associação promove também o projecto «Mulher, Campo e Trabalho», que surge da necessidade de, na região do Vale do Tâmega, lançar processos de desenvolvimento local, promover estratégias de apoio ao empreendedorismo das mulheres e favorecer a criação de emprego.

http://www.cafeportugal.net/pages/noticias_artigo.aspx?id=3535

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