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terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Sexo do Fado Português

Por: PedroMiguel Gaspar  (*)

Incontáveis são as vezes que amaldiçoamos o nosso fado. Não o Fado cantado em jarros de vinhos e em cama de chouriça assada, antes aquele fado que abraçamos como marca indelével da fatalidade do nosso destino como povo e como nação.


Temos, à mesa, ou à falta dela para fazer a vontade à metáfora, outra crise económica para partilhar. E o fado gingão que brinda a partilha em copo cheio, enegrece num fado triste quando o vinho escasseia e da chouriça só o pão molhado.

Partilhar as facilidades e as dificuldades é uma arte, louvem-se os casais com mais de 7 anos de casamento. Em termos de Nação, essa é ainda arte maior. Nunca o soubemos fazer. Ainda mais tristes e cabisbaixos que o nível da normalidade Lusa, recorremos, primeiro, ao fatalismo para nosso bode de estimação. Depois vêm os políticos, depois os sanguinários patrões, os malandros dos funcionários públicos, os desempregados crónicos e, se a coisa se tornar mais grave, os inúteis dos velhos que nunca mais morrem para não estarem a comer à conta.

Passado o choque inicial vem o conforto da salvação. Afinal existe um pai que nos irá salvar. O “Pai-Estado”. Providente, misericordioso e complacente, o “Pai-Estado” ir-nos-á devolver o que por direito é nosso. Tem sido assim desde a fundação da Nação.

O “Pai-Estado”, no entanto, para socorrer os seus desafortunados filhos, tem tido sempre um Pé-de-Meia. Começou por uns bons casamentos e dotes na corte europeia, trabalhou no Brasil, África e Ásia e vendeu Volfrâmio a um amigo Alemão enquanto abraçava um amigo Americano. Recentemente, foi admitido como sócio no Clube Europeu. È certo que a mesada do Clube foi muito boa e distribuída por alguns filhos, no entanto, e para isso, teve de vender a Agricultura ao amigo Francês e as Pescas ao amigo Espanhol.

Vendidos os anéis, ficaram os dedos. Dedos que serviram, por estar o “Pai-Estado” sem emprego há muitos anos, para pedir dinheiro emprestado aos amigos. Como quem vai ficando a dever na mercearia. A isto chama-se divida externa.

Como não se pode endividar mais, o “Pai-Estado” tem de cortar na mesada dos filhos. A isto chama-se redução da despesa.

E, como se não bastasse, o “Pai-Estado” tem de voltar a arranjar um emprego, vender mais algumas propriedades e pôr alguns dos filhos mais mandriões a trabalhar. A isto chama-se criação de receita.

Com mais receita e menos despesa o “Pai-Estado” pode pagar a sua divida externa.

Subsistirá, no entanto, o problema mais grave de todos e que está a pôr em perigo esta nossa família a que chamamos Portugal. O “Pai-Estado” tem de se sentar com os seus filhos para lhes dizer que já são uns Homens e que chegou a hora de irem com ele trabalhar. De preferência em algo que se possa vender aos amigos do mundo.

Só assim se garantirá, depois de equilibrar a receita e despesa para pagar a divida externa, garantir o futuro….com a criação de riqueza.

Caso contrário, a vida desta família não será apenas triste fado. Será um fado cantado de um País que foi….sexualmente tramado.


(*) Pedro Miguel Gaspar é Empresário. Com a a publicação desta crónica inicia a sua colaboração periódica com este jornal 

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