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domingo, 18 de julho de 2010

O inconcebível retrocesso no acesso ao ensino superior

É sobejamente conhecido que Portugal tem taxas de acesso ao ensino superior que estão muito aquém das que se verificam, não apenas na generalidade dos países da União Europeia, mas mesmo em países que são considerados como menos desenvolvidos. Impunha-se por isso um grande esforço do Estado português no apoio ao acesso ao ensino superior por parte dos jovens portugueses, em nome da superação do atraso nacional e a bem das possibilidades de acesso a emprego qualificado por parte das gerações futuras.
Fez-se precisamente o contrário. As propinas no ensino superior público, que meados dos anos noventa tinham um valor simbólico, estão hoje acima dos 900 euros anuais. Isto nas licenciaturas e nos mestrados integrados, já que nos mestrados não integrados as propinas ascendem a milhares de euros anuais. Acresce que o famigerado processo de Bolonha se encarregou de desgraduar as licenciaturas, fazendo com que a habilitação exigida para o acesso a profissões qualificadas seja o mestrado.
Não tenho qualquer dúvida que existe hoje uma grave selecção económica no acesso ao ensino superior. Basta olhar para a média salarial praticada em Portugal e para o crescente empobrecimento do extracto social a que se convencionou chamar “classe média” para perceber que grande parte das famílias portuguesas não tem condições económicas para que os seus jovens frequentem o ensino superior público, e por maioria de razão, privado.
Dizia hipocritamente o ministro Mariano Gago que o problema se resolvia por via da concessão de bolsas de estudo aos jovens de famílias carenciadas para que pudessem frequentar o ensino superior. Demagogia. É mais que sabido que as condições de acesso a bolsas são de tal modo restritivas que deixam de fora amplas camadas da população que vivem com sérias dificuldades económicas. E para piorar as coisas, vem agora o PEC retirar as bolsas de estudo a 20 % dos actuais beneficiários.
Portugal, os jovens portugueses do presente, e as gerações futuras, vão pagar muito caro o retrocesso inconcebível que a doutrina neoliberal posta em prática pelos Governos PS/PSD/CDS impôs ao nosso país em matéria de ensino superior. A menos que esta política seja travada. A menos que o acesso à formação superior deixe de ser considerada como um privilégio individual de alguns privilegiados e volte a ser encarada como um desígnio estratégico para o desenvolvimento económico, social e cultural de Portugal.
Por: António Filipe,
Deputado do PCP

3 comentários:

Anónimo disse...

O Antonio Filipe pode ter muita razão no que diz... mas na prática há muito boa gente a uzofruir de bolsa de estudo que vai para a Universidade de Belos carros e roupas de marca!!!
Não será mais de restringir o acesso a quem tem bolsas de estudo?!!! pergunto? o restregimento deve, a meu ver passar por uma control dos requerimentos apresentados ao SAS das Universidades... eu sei do que falo... porque ao contrario do Antonio Filipe tenho a experiencia vivencial... :-)

Anónimo disse...

Nem todos devem ir para a Universidade, deve ir para a Universidade quem tem capacidades para tal... hámuito jovem que vai esturrar dinheiro (aos pais e ao estado), indo para as universidades, deve-se sim criar condições aos jovens de terem uma profissão digna, ensinar, educar, passar valores morais e eticos e criar-lhes uma capacidade de trabalho.
Nem todos podem ser doutores e Engenheiros, mas podem ser dignos trabalhadores.
Do que vale um jovem ir para uma Universidade se depois não tem capacidade de aplicar as aprendizagens adquirtidas??? ora vejam quantos jovens temos nas caixas dos supermercados, jovens licenciados e mestrados!!!
Gostava que o PCP e os seus deputados fossem menos liricos e mais realistas...

Anónimo disse...

Ao ler o primeiro comentário, fiquei no mínimo espantado e ao mesmo tempo preocupado.

"eu sei do que falo... porque ao contrario do Antonio Filipe tenho a experiencia vivencial... :-)"

Fiquei na dúvida se este comentarista é um familiar directo deste universitário ou se é o próprio universitário.

...É que para um universitário, estas calinadas de português exibidas no texto,não me parecem consentâneas com qualquer grau académico.