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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Politicamente Correcto: eufemismos e menores verdades

Artigo de Opinião
Por: Anabela Melão


Se há coisa de que a Democracia nos abona diariamente é com o exercício do politicamente correcto.
São poucos os que, ou porque exercem funções públicas ou porque pretendem vir a desempenhar cargos públicos (já de si uma maneira politicamente correcta de evitar os termos que nos vêm à mente para as circunstâncias, mas, porém, sem cair no exagero de falar em trabalhadores do Estado, até porque a expressão, em termos legais, desapareceu para dar lugar àquelas nomenclaturas eventualmente mais “realistas” – sem alusões às piadinhas de Macário Correia sobre os cafezinhos, os cigarrinhos e as conversinhas….), se podem dar ao luxo de ser politicamente incorrectos. Se, antes das actuais contenções orçamentais sobre promoções, quem o fosse pagava a preço de uma vida de “cepa torta” qualquer aleivosia mais atrevida que caísse mal às chefias, agora então poderá conduzir à mobilidade “especial”.
Portanto, qualquer ligação ao Estado e …nem pio… cuidado, mas mesmo muito cuidado com o politicamente incorrecto.
Vale a pena lembrar que a linguagem politicamente correcta surgiu nos Estados Unidos, berço da Democracia, mas com uma longa tradição de preconceitos: entre o país de Thomas Jefferson existiu também o país da Ku Klux Klan. Um negro era um nig.ger, um judeu, um ki.ke...
Com o “Politicamente Correcto” pretendia-se erradicar expressões pejorativas, discriminatórias, sexistas e racistas, substituindo-as por um discurso único, consensual, apaziguador de conflitos sociais. Recorre-se então a eufemismos: “pessoa de cor” refere-se a “pessoas de raça negra” ou a “negros”. Os americanos usam o famoso termo “afro-americano”. Mas o problema é que o politicamente correcto criou terminologias artificiais e ridículas que, com o uso, adquiriram novas conotações negativas e tiveram de ser reformuladas com outros readaptados eufemismos. Ao fim e ao cabo, um exercício de cosmética linguística.
Alguns exercícios eufemísticos ficaram registados: não se diz “trabalhadores”, mas sim “trabalhadoras e trabalhadores” (o feminino sempre em primeiro lugar!), para fazer passar uma mensagem defensora da igualdade de género, apesar de, para mim, ter o efeito contrário, já que a gramática portuguesa contempla o plural masculino para agregar um grupo com por pessoas de ambos os sexos. Em tempos de intervenção armada, não se fala em guerra, mas em libertação, muito menos em invasão. No contexto laboral , a expressão promoção horizontal significa que foram alteradas as funções do trabalhador, mas que este não sobe na hierarquia. Um pouco o que sempre vi fazer com elementos “em regime de substituição”, até aparecer alguém com o “perfil” ideal, nomeando-se depois quem o tinha (ao “perfil”, já se vê), enquanto que o “em substituição” voltava às funções que ocupava e, mais não lhe restava, que agradecer ter sido explorado sem nada receber em troca, muitas vezes, nem o mero reconhecimento de um “obrigado”. É o que acontece a quem não é politicamente correcto! Em economia, fala-se em crescimento negativo e não em crise. A uma pessoa casada com actividade sexual paralela chama-se adúltero. Uma pessoa verticalmente desfavorecida (“vertically chanllenged”) é alguém de baixa estatura; horizontalmente desfavorecida, se não obedecer aos padrões de elegância exigíveis. Cerebralmente desfavorecido ….e por aí diante.
Ora, por não se tolerarem os golpes de asa dos politicamente incorrectos continuamos vergados ao cinzentismo, ao conformismo, aos yes-man, e segue o rodopio de cadeiras, daqui para ali. Nos tempos em que “exerci funções” em gabinetes ministeriais, era certo e sabido que, quando a asneira era grossa, só restava uma saída: o pontapé para cima. Era-se promovido intra-serviço, porque havia que retirar o “lume de ao pé da estopa”, ou seja, afastar do risco do trabalho, quem com ele mantinha uma relação desastrosa.
Até tive num serviço em que, uma vez, à volta de uma enorme mesa de chefias, se discutia quem iria ser promovido a chefe, ouvi então surgir o nome de um colega reconhecidamente competente, e que logo fez erguer da cadeira um dos dinossauros-chefes: “Esse? Nem pensar. Esse tipo trabalha bem. Já “x” é melhor para ”coordenar”!” E o dito lá foi direito à tomada de posse num abri e fechar de olhos!
Ora, não há maneira de se dar lugar ao arrojo, às novas ideias e às novas mentalidades, e cada vez se vê mais alguém na casa dos sessenta (não que tenha nada contra, evidente!), depois de ter feito figuras tristes neste ou naquele lugar público, ser promovido para outro ainda mais pomposo, como se tivesse feito uma lipoaspiração cerebral e lhe tivesse sido retirada toda a massa encefálica que estava “menos bem”.
Por muito que queira ser politicamente correcta, e, por acaso, ou não, nunca o fui e muito menos pretendo agora começar a sê-lo, só me lembro de dizer: Em “politicamente correcto”: Que teimosia! Que impróprio! Que desadequado!”. E em “politicamente incorrecto: “Larguem esse velho osso e deixem essa besta (ou asno se for mais light) ir à vida! Raios partam!”

1 comentário:

Anónimo disse...

Não vou entrar em grandes detalhes sobre o artigo de Anabela dado que lá, está tudo dito e com o qual estou pelanamente de acordo. Mas só uma pequena achega, quando ela refer que muitas pessoas já na casa dos sessenta ainda andam por aí. embora sem nada contra eu só quero dizer que os mesmos estão a ocupar lugares dos quais nem saberão dar conta, não fossem os assessores, não sei como seria, mas devo dizer que já me deparei com situações, que considero caricaras, como por exemplo: Ter que utilizar um softwer ultrapassado porque os tais Senhores não sabiam nem sabem utilizar um mais actual o que se compreende isto está a mudar todos os dias e nem todos conseguem acompanhar essa mudança. Mas por causa destes detalhes também ainda no sector publico se lambe muito papel.

Eles até falam das novas tecnologias mas é apenas um tabalhinho que lhe prepararam para ele dizer, e os que sabem e tem ideias tem que ficar à espera que esta gente se lembrem que o tacho já está cheio, e devem dar lugar aos que sabem, e estão subaproveitados, o que é lamentável