.

.

.

.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

SER MAÇON: UMA QUESTÃO DE LIBERDADE

O António Centeio confessou-me que alguns leitores têm manifestado alguma curiosidade sobre o que é a Maçonaria.

O que é. Quem a ela pertence. O que visa.

Achei interessante o desafio. Assim, não pretendendo maçar-vos com textos extensos e pouco perceptíveis, vou “iniciar-vos” com algumas ideias gerais. Dependendo do vosso interesse, “juro” que se seguirão outras crónicas.

Dado que é a primeira vez que me “revelo” maçon para a minha família de sangue, dedico-lhes estas palavras. Aqui vai, Vale de Cavalos. Ao meu avô que vive, no lado de lá, ao “Oriente Eterno”.

Começo por dizer que falo de Maçonaria, na visão que tenho dela. Nenhum maçon, a não ser que devidamente mandatado para tal, se assume como porta-voz dos seus irmãos. É uma postura pessoal, como o são todas as posturas dos maçons: livres, pessoais e intransmissíveis. Daí o “segredo” de que tanto se fala. Que mais não é do que a forma interiorizada, espiritualizada como cada maçon vive, a cada dia, a sua “iniciação” e o seu “aprendizado”. Da “pedra bruta” que é quando, neófito, se entrega ao trabalhá-la, para o resto da sua vida, numa linha contínua de aperfeiçoamento e melhoramento, até à “pedra polida”.

Posso, como apaixonada por História, mencionar-vos o papel que desempenhou na História do Mundo na implantação de uma comunidade que se rege pelas máximas da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade (o lema adotado pelos insurgentes durante a Revolução Francesa).

Posso, como cidadã, esclarecer-vos que não se trata de uma sociedade secreta, mas sigilosa ou discreta, dependendo da forma mais ou menos livre com que cada maçon assume (ou não) que o é. Tudo depende dos tempos. Em liberdade ou em ditadura, assumir que se é maçon é já, de per si, um acto de liberdade. Digo-vos que nenhuma ditadura (muito menos o Estado Novo, já que se comemora, também Abril) foi complacente com os maçons, porque estes antagonizam, como livres pensadores que são, os poderes instituídos. O secretismo, esse está e esteve sempre directamente relacionado com a maior ou menor Liberdade em que o país vive em cada momento da sua História. A Maçonaria foi secreta quando perseguida pela Inquisição, por Pina Manique ou durante o período que opôs liberais a miguelistas. Voltou a ser secreta quase cem anos depois com a ditadura do Estado Novo. Foi “secreta” sempre que a Liberdade perigou.

Posso, como jurista, dizer-vos que é uma ordem com regras próprias, a que apenas adere quem é convidado por maçons que detém a qualidade de mestres e que apenas quem possui tal “grau” se pode assumir como tal.

Posso, como maçon, confirmar-vos que não é uma religião, mas uma ordem iniciática pautada por valores e princípios que transcendem a mera crença num Deus, que, consoante a religião de cada maçon ou até para os agnósticos e ateus, acredita na existência de uma entidade superior, a que chamam o “Grande Arquitecto do Universo”.

Posso, por fim, como co-fundadora da Academia de Estudos Laicos e Republicanos (fundada por “sete” “Irmãos”), trocar impressões sobre o modo como influenciou os destinos do nosso País, sobretudo num ano em que se comemora a República: um sonho (também) de maçons. Nas vésperas de 1910, ser-se republicano significava ser civicamente activo e ser-se pela democracia de opinião por oposição ao Estado centralizado na figura do rei. Por isso, muitos republicanos eram maçons e outros tantos carbonários (o “braço armado” do movimento republicano).

A estrutura funcional da Maçonaria de antanho era idêntica à de hoje, na forma de trabalhar. Em 1910, a Maçonaria estruturava-se em “Lojas” e “Triângulos”, dispondo o Grande Oriente Lusitano Unido de órgãos específicos com carácter legislativo, executivo, judicial e ritual. Eram locais privilegiados de debate, contribuindo para que a República fosse encarada como uma alternativa ao regime monárquico. Discutiam temas de interesse nacional, focando-se no sistema de ensino, na organização política e económica do país, com enfoque nas matérias de carácter social: a pobreza, o divórcio, os horários de trabalho, a assistência médica pública, o movimento operário ou o analfabetismo. Os maçons, tratando-se por “Irmãos”, possuíam uma estrutura piramidal, tendo na base as “Lojas” azuis, incluindo os “graus” de “aprendizes”, “companheiros” e “mestres”. Era na faixa litoral que se concentrava o maior número de Lojas, onde o Porto, Coimbra e Leiria, possuíam uma actividade maçónica significativa, mas era sobretudo Lisboa que projectava a politização nacional, com reflexos directos naquele que viria a ser um marco (outro) de LIBERDADE: o 5 de Outubro.

Aguardo que manifestem o interesse pelos próximos capítulos.

Já agora, um outro colaborador do vosso jornal é “Irmão”. Não me compete identificá-lo. Limito-me a dizer que seria interessante que o fizesse. A minha liberdade acaba onde começa a dele. Assim se faz Maçonaria.

Por: Anabela Melão

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns ao jornal. Quer pela quantidade de notícias que publica quer pela qualidade como ainda dos temas que aqui são publicados