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sábado, 27 de junho de 2009

A maior produtora de leite instalada em Alpiarça está em desespero

A Renoldy informou os produtores que vai deixar de recolher o leite a partir de 15 de Julho. A empresa diz que a Sonae, para quem produzia 75% do leite, declinou o contrato, pelo que não tem escoamento. A Sonae, no entanto, renovou a encomenda.

"Tenho 15 dias. Ninguém quer o leite. Todos têm a mais. Não sei o que fazer", afirmou Jorge Silva, um das cerca de quatro dezenas de produtores de leite que, anteontem, foi surpreendido com a carta da Renoldy, a que o JN teve acesso, anunciando o fim da compra de leite por parte da empresa, com a qual trabalhava há vários anos.

A Renoldy, com sede em Alpiarça, que só produz "marcas brancas" para grandes superfícies e não detém marca própria, diz no documento que a Sonae Distribuição - para quem produzia o leite dos hipermercados Modelo e Continente -, declinou o contrato com a empresa pelo que, sem hipótese de escoamento, deixará de comprar o leite aos produtores.

Ontem, à porta do hipermercado Modelo, em Vila do Conde, Jorge Silva juntou-se aos cerca de 1500 produtores de leite, oriundos de todo o país, para apelar aos portugueses que consumam leite nacional, numa marcha organizada pelo Movimento Mais Português.

"São investimentos de milhares de euros por água a baixo, são pessoas para o desemprego - só eu tenho oito funcionários -, não sei como vai ser. São mais de 100 mil litros de leite por dia a sobrar", explica, acrescentando que, na sua exploração, nas Caldas da Rainha, se produzem cerca de sete mil.

"Os produtores de leite estão numa situação desesperada. Estamos em dificuldades e muito apreensivos quanto ao futuro da produção de leite em Portugal. A maioria dos produtores ganha para pagar as despesas e muitos já com dificuldades vendem já abaixo dos custos de produção", afirmou Carlos Neves, do Movimento Mais Português, acrescentando que, no espaço de um ano, com o aumento de 2% da quota de leite em todos os países da Europa, o preço ao produtor desceu de 46 para 25 a 30 cêntimos e, agora, com a crise na Renoldy, teme-se nova queda de preços.
Por isso, ontem, explicou, os produtores uniram-se para "apelar ao consumidor que beba leite nacional, à distribuição que venda leite nacional e ao Governo, que concordou com o fim das quotas leiteiras, para que encontre uma solução para o problema", já que o país está a tornar-se "o caixote do lixo da Europa". "Só 2% da quota francesa é mais do que o total da nossa", explicou Miguel Fernandes.

Em comunicado, a Sonae esclarece que foi a Renoldy quem não compareceu às reuniões negociais e garante que, ontem mesmo, alertada para a situação pelos produtores, encomendou à Renoldy 1,3 milhões de litros de leite. Quanto ao leite "É", diz ainda a Sonae, foi a própria empresa quem declinou o fornecimento, "argumentando não dispor de capacidade instalada suficiente para responder às necessidades da Modelo Continente".
«Jornal de Noticias»

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