.

.

.

.

sábado, 20 de junho de 2009

É URGENTE (RE) DINAMIZAR O MOVIMENTO ASSOCIATIVO EM ALPIARÇA

Por: Mário Fernando Pereira
Desde as primeiras décadas do século XX que o associativismo de cariz popular passou a ter em Alpiarça um importante papel na inserção no trabalho colectivo e na tomada de consciência contra as injustiças, na dinamização cultural e na promoção da prática desportiva, envolvendo sucessivas gerações de Alpiarcenses no despertar para formas de gestão democrática que contrastavam flagrantemente com as práticas da ditadura fascista. As colectividades foram assim, ao longo de décadas, autênticas escolas de cidadania, resistindo ao apertado controlo e à repressão.

Com a Revolução de Abril, Alpiarça registou um crescimento excepcional da actividade associativa, acompanhando todo o processo de efervescência cultural que resultou da liberdade recentemente adquirida e da vontade de contribuir para o progresso social, a todos os níveis.

A par das colectividades mais antigas, existentes há várias décadas, como a Música e “Os Águias”, simultaneamente ao envolvimento geral no processo político de construção da Democracia, com tudo o que implicava de generosidade e voluntarismo colectivos, as populações deitaram mão à criação de novas Associações e Colectividades (Casalinho, Frade de Baixo, Frade de Cima), multiplicando a aprendizagem do trabalho solidário e a participação popular, quer no movimento associativo quer na discussão de um novo rumo para a vida colectiva. Fomentou-se o activismo, organizaram-se festas populares que uniram as comunidades e comemoraram a liberdade. Construíram-se as sedes e diversificaram-se as iniciativas.

Foi um momento de construção das infra-estruturas básicas ao progresso e desenvolvimento do concelho e do País, herdeiros do atraso crónico e da miséria de quase cinquenta anos de ditadura fascista; esta foi uma empresa colectiva, que congregou esforços e dádivas individuais de grande qualidade e importância, fruto de uma Democracia que avançava e se estruturava, com base na participação dos seus cidadãos. Foi também, justamente, uma tarefa assumida pelo Poder Local democrático, que tinha igualmente nascido com Abril e dava os primeiros passos – tudo procurando apoiar, desejando socorrer todas as novas exigências criadas pela liberdade conquistada, inventando os meios de que não dispunha, ultrapassando condicionalismos. Investindo no futuro.

Alpiarça viu então nascer a esperança em forma do colectivismo cooperativo, logo desarmado de forma fria e inflexível por Governos que – mentindo na altura quanto às suas reais intenções –, provaram depois já sem pudores, que sempre tinham tido outros planos para o aparelho produtivo português; desenvolveram-se os sindicatos de classe e as associações profissionais directamente ligadas às actividades económicas, as comissões de moradores, que desbravaram caminhos. Dinamizou-se a Casa do Povo e o seu (nosso) Rancho Folclórico, construíram-se Escolas e democratizou-se o acesso ao ensino e à saúde. Alpiarça viu crescer toda uma geração que finalmente podia usufruir dos resultados de uma luta de séculos (e de classes) pelo progresso social, beneficiando todos, a tal ponto que alguns até se esqueceram do significado dessa luta.

Cresceu a Instituição José Relvas na sua vertente assistencial; nasceu a ARPICA – Cantinho do Idoso, uma outra associação que, sendo de solidariedade social, de apoio a reformados e pensionistas, é ainda, integrada num movimento mais vasto, um espaço de reivindicação, de luta por direitos e pela dignidade humana. Alpiarça viu nascer um Grupo formado por pessoas que doam, generosa e benevolamente, o seu sangue em nome da solidariedade, cuja relevância social é proporcional à falta de apoio por parte de governantes e ministérios.

As últimas décadas viram surgir as Casas e Núcleos dos clubes de Lisboa, as associações para o desenvolvimento económico e social, de Caçadores, de Cicloturismo, de Xadrez, de Radioamadores, de Amigos da Casa dos Patudos…

Com altos e baixos, conjunturalmente com maior ou menor envolvimento de sócios ou dirigentes, com maior ou menor diversidade nas actividades realizadas, acompanhando a própria evolução económica e social do País, as colectividades de Alpiarça contribuíram decisivamente para a promoção da prática de várias modalidades desportivas, recreativas, lúdicas ou culturais, envolvendo a população, em especial os mais jovens, criando públicos e espaços físicos disponíveis.

Há toda uma história que deliberada e repetidamente, nos últimos anos, tem sido mal contada. Para atingir objectivos políticos imediatos, a maioria momentaneamente vigente em Alpiarça procurou deturpar, e até falsificar, a memória dos Alpiarcenses. Nunca o deveriam ter feito.
Seguindo uma lógica contrária, integrando todos os contributos, não pretendo diabolizar um determinado período da história recente da nossa terra, ou seja, em concreto, os anos de gestão PS. Considero mesmo que houve continuidade numa linha de apoio à construção de alguns equipamentos importantes para a nossa população nesta vertente.

Mas julgo que faltaram dois elementos fundamentais para o sucesso na dinamização do movimento associativo Alpiarcense: por um lado, faltou a capacidade de potenciar eficientemente os equipamentos existentes através da generalização da prática desportiva e da criação cultural; por outro lado, falhou uma efectiva (e afectiva) ligação aos clubes, colectividades e associações do concelho, uma ligação independente da tentação de tutelar as instituições e usar os seus dirigentes.

Os tempos mais recentes mostram um refluxo na actividade e na participação popular no movimento associativo em Alpiarça. O discurso do PS, sobretudo em momentos eleitorais, tem procurado apresentar a Câmara como chefe-de-fila do associativismo. O exagero na assunção deste papel e a infundada propaganda resultam de uma lógica de promoção política do PS/Alpiarça é a Razão, que não tem tradução na realidade.

Os dirigentes associativos e os sócios mais atentos sabem-no. Contactando-os, deles transparece uma análise realista e lúcida, que procura, em primeiro lugar, valorizar a actividade de cada uma das suas associações. É perceptível a vontade, o voluntarismo e o orgulho no historial próprio, no trabalho desinteressado de muitos. Mas é inequívoca a chamada de atenção para as dificuldades com que se deparam quotidianamente, assim como o descontentamento pela insuficiência dos apoios, por um afastamento sistemático do executivo municipal.

Existem ainda outras responsabilidades, tão ou mais profundas, que contribuem para esta realidade: as responsabilidades do Estado; deste governo do PS e de outros anteriores. Governos que, para além de não cumprirem as suas obrigações constitucionais nestas áreas (artigos 78º e 79º da CRP), incentivam uma lógica individualista centrada na competição e no sucesso individual, que subordina as actividades de lazer, desportivas e culturais ao lucro e ao mercado, ao consumismo e à concorrência, ao afastamento do Estado da esfera social.

Tendo como referência esta realidade, há práticas e concepções que têm necessariamente de ser alteradas no relacionamento entre a autarquia e o movimento associativo de Alpiarça.

É urgente a definição de uma política que retome um caminho de colaboração incondicional entre as autarquias (Câmara Municipal e Junta de Freguesia) e as colectividades do concelho. Uma nova política que afaste tendências arbitrárias, discriminatórias e tutelares por parte do poder autárquico, que respeite a autonomia e a iniciativa próprias de cada instituição – dos seus sócios e corpos gerentes –, na prossecução de um objectivo comum que deve ser sempre subordinado ao desenvolvimento do concelho e à melhoria dos níveis de satisfação da população.

Torna-se premente, no cumprimento das suas competências nestas áreas, que a Câmara Municipal de Alpiarça tome a iniciativa de, através de uma orientação persistente e do empenho dos seus meios humanos – profissionais qualificados e experientes –, criar um Conselho Municipal de Cultura e Desporto que reúna regularmente os representantes das colectividades, associações, escolas e da autarquia, de forma a programar toda uma actividade que se quer comum, de que resulte a possibilidade de disponibilizar aos Alpiarcenses (e a quem nos visite) uma verdadeira oferta recreativa, cultural e desportiva diferenciada e alargada a todos.

A própria intervenção que se deseja ao nível da defesa e valorização do nosso património histórico e cultural deverá procurar nas colectividades de Alpiarça um importante parceiro.
Assim seja esta a visão dos agentes do Poder Local a partir do próximo mês de Outubro.

Com o devido apoio das autarquias, as Associações, Escolas e Colectividades da nossa terra cumprirão o seu papel no desenvolvimento desportivo e cultural, contribuindo para o reforço da participação dos cidadãos na vida social, numa perspectiva de cooperação, de solidariedade e de inserção social, de independência, de afirmação da identidade local, na construção de uma Democracia política, económica, social e cultural para todos.

Sem comentários: