.

.

.

.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Viagem pelos campos da lezíria ribatejana

Nos campos da região não há vagar para pensar na crise. É tempo de plantar tomate e melão e esperar que as terras férteis da lezíria façam jus ao nome no próximo Verão e dêem o seu contributo para o arribar do ânimo e da nossa economia.

Onze da manhã de uma quinta-feira solarenga mas ventosa. Nos campos da lezíria ribatejana já se trabalha desde o nascer do sol. Uma viagem pela estrada do campo que liga Santarém à Chamusca permite-nos observar os agricultores a cultivarem os seus terrenos. Sentadas numa alfaia puxada pelo tractor, Olga Arsénio e Maria Antónia Matos vão colocando os tomateiros no sistema de plantação automática. Como nem sempre as plantas ficam no sítio certo, as camponesas saem do tractor com alguma regularidade e vão corrigir o trabalho que a máquina não conseguiu fazer em condições.

Com um lenço na cabeça e um chapéu para proteger do vento e do sol, Olga Arsénio, 56 anos, conhece bem a dureza da vida do campo. Mas não se arrepende da decisão que tomou. Aos 12 anos já ajudava nos campos da Chamusca na apanha do tomate e na vindima. Fazia de tudo um pouco.

Artur Gameiro, o empresário agrícola que conduz o tractor, 44 anos, começou a trabalhar no campo com 22 anos. O seu pai tinha propriedades na zona de Alpiarça e o jovem tomou-lhe o gosto e começou por produzir tomate, melão e beterraba. Actualmente produz tomate, melão e milho nos cerca de 70 hectares de campo que traz por sua conta.

O melão foi plantado entre Março e Abril e, segundo o agricultor, está pronto para ser apanhado entre finais de Junho e início de Julho. A cultura do tomate só acaba no princípio de Setembro quando começa a época da apanha. Por dia são plantados cerca de sete mil pés de tomate. “Regar e curar como deve ser são dois factores essenciais para que a produção seja boa”, refere Artur Gameiro.

Percorrendo os campos em direcção a Alpiarça entramos nos terrenos de Joaquim Paulino, 68 anos. Depois de um almoço rápido recomeçam a jornada. A reportagem de O MIRANTE encontrou o agricultor juntamente com a esposa, Nubélia Paulino, 66 anos, e duas colaboradoras a plantarem melão. O plástico já foi colocado para cobrir os três hectares de terra. Joaquim Paulino vai fazendo buracos no plástico. Atrás, as mulheres vão deixando nas aberturas as plantas que deverão dar fruto dentro de quase dois meses.

Plantam cerca de três mil pés de melão por dia. Um trabalho duro fisicamente uma vez que Joaquim Paulino ainda cultiva de forma artesanal. Para colocar as plantas correctamente na terra as mulheres têm que trabalhar agachadas. “A idade já pesa e já não trabalhamos com tanta agilidade como quando éramos novas”, diz Nubélia Paulino.
Agricultura também se ressente da crise financeira que atravessa o mundo
Ser agricultor hoje em dia é muito diferente do que era quando Artur Gameiro começou a trabalhar na agricultura há duas décadas. Antigamente era tudo feito à mão e à força de braços. Agora existem os sistemas de rega automáticos que facilitam um pouco a vida dos agricultores. E os sistemas de cura e de sementeira e colheita.

“As diferenças são enormes, agora é tudo feito de forma automática o que facilita o cultivo e permite produzir em maiores quantidades. Mas, nunca se sabe o que se vai vender melhor. Depende da oferta dos agricultores. O ano passado vendeu-se muito bem o melão”, explica o agricultor.
Joaquim Paulino confessa que ainda trabalha de forma artesanal. A idade, diz, não compensa meter-se em aventuras para comprar máquinas que lhe permitam fazer grandes produções. Por isso, não voltou a apostar no cultivo do tomate. “A cultura do tomate só compensa se fizermos mais de 50 hectares e para isso são precisas máquinas que permitam produzir grandes quantidades. Se não for assim não vale a pena”, conclui o agricultor.
Ambos concordam que também a agricultura ressente-se da crise financeira que o mundo atravessa actualmente. “Nunca sabemos se vamos conseguir vender bem ou não. É sempre uma incógnita”, afirma Artur Gameiro. “Os produtos que temos que comprar como adubos, plásticos ou pesticidas estão caríssimos. Não estão enquadrados com os preços dos produtos que vendemos o que acaba por não compensar o trabalho que temos ao longo do ano”, conclui Joaquim Paulino.
A camponesa que quase nasceu nos campos
Nubélia Paulino, 66 anos, trabalha no campo desde criança e não se imagina a fazer outra coisa. Foi para isto que nasceu, diz. Por pouco não nasceu no meio do campo. A mãe também vivia da agricultura e trabalhou todos os dias durante a gravidez de Nubélia.

“A minha mãe nunca deixou de trabalhar mesmo quando estava grávida. Os tempos eram muito difíceis e sempre era mais um dinheirinho que entrava em casa para ajudar. Não havia condições para se ficar em casa só por que se estava grávida. E no dia em que nasci a minha mãe acordou para um dia normal de trabalho. Só quando percebeu que tinha chegado a hora do meu nascimento é que a levaram para o Hospital senão tinha nascido no meio das searas onde tenho vivido toda a minha vida”, recorda Nubélia Paulino enquanto coloca mais planta na terra.
«O Mirante»

Sem comentários: