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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mecânica Agrícola de Alpiarça


Apontamentos do passado alpiarcense (2)

A lavoura do concelho de Alpiarça e, de uma maneira geral, toda a lavoura portuguesa, tem nesta excelente oficina um extraordinário apoio para os seus problemas de mecanização. Já vão rareando, felizmente, os antigos processos de trabalhar a terra e os produtos delas colhidos, pois o progresso tem penetrado em todas as regiões e as exigências dos mercados consumidores, a para da carência de mão-de-obra, tem criado aos produtores, mesmo aos mais renitentes a tradicionalistas, situações que só o aproveitamento racional de máquinas e alfaias agrícolas tem conseguido solucionar satisfatória e economicamente.

A Mecânica Agrícola de Alpiarça tem acompanhado de perto este desenvolvimento progressivo, e correspondido cabalmente aos fins para que foi criada. Joaquim António Gameiro, o seu dinâmico proprietário, nasceu neste freguesia a 27 de Outubro de 1935, bem cedo se tendo lançado nesta indústria pois, logo a seguir aos estudos primários, desprezou a vida gaiata e folgazã de todos os adolescentes para ir trabalhar junto de seu pai, Laurentino António Gameiro, nascido em 1904, em Alcanede.

Este, voluntarioso e decidido, animado daquele espírito de sacrifício e de insatisfação que só a muitos poucos ilumina, deixou a sua terra aos dezasseis anos de idade para ir tentar em Lisboa uma vida nova e mais promissora.

Na capital aprendeu conscienciosamente a difícil arte de torneiro mecânico e ali se manteve nessa actividade durante alguns anos. Seguiu, depois para Santarém, já especializado, onde foi empregado numa importantes oficina daquele ramo.

Nessa bela cidade ribatejana logrou conquistar as mais amplas simpatias, não só por parte do patrão, que muito o considerava, mas igualmente de toda a clientela. O interesse e a perfeição que aplicava aos trabalhos que saíam das suas mãos privilegiadas transformavam pequenas peças de somenos importância em autênticas obras-primas, o que lhe granjeou excelente fama e valiosa confiança.

Passados anos, cheio de saber, cada vez mais animado de vontade e, agora, possuidor de algumas economias honestamente amealhadas à custa de um trabalho intenso e probo, entendeu, e muito bem, que era chegada a hora de trabalhar só para si. Monta então, com assinalável êxito a sua oficina, mas não se limita apenas à serralharia, acrescentando-lhe, também, uma secção de mecânica, dada a extraordinária prática que já tinha de reparação de automóveis e máquinas agrícolas e industriais de todos os tipos. E, durante o período de 1935 a 1938, aplicou-se afincadamente àquelas actividades sempre com plena satisfação da sua clientela, que o procurava em todas as circunstâncias por motivo do prestígio que o rodeava.

Aos vinte e oito anos de idade contraiu matrimónio com Tereza Maria Gameiro, e dessa auspiciosa união nasceram os filhos Maria Lídia Tereza Gameiro e Joaquim Maria António Gameiro. A crise que durante o ano de 1938 atingiu fortemente a região ribatejana levou-o a procurar novos rumos, sempre ansioso por progredir e não se deixar arrastar para o abismo. Assim, confiou a oficina a um seu empregado e arranjou colocação como administrador da casa agrícola do falecido António Matos Coutinho, onde se manteve, a contento de todos quantos com ele privavam, até 1942, ano em que ocorreu o falecimento daquele seu patrão.

De novo livre, mas sempre ansioso por actividade, comprou com algum dinheiro que amealhara, alguns terrenos em Alpiarça onde edificou casas, numas das quais vive presentemente. Incansável no seu desejo de produzir e de se tornar útil, construiu ele próprio um barracão de madeira onde volta novamente a exercer a arte que fora a base do seu princípio de vida: a de serralheiro mecânico. A ela se dedica durante os dez anos seguintes, e em 1952 esse barracão provisório é já uma excelente e bem apetrechada oficina, com instalações bem estruturadas em alvenaria.

Em 1956, recolhe-se à vida privada se, todavia, esquecer ou abandonar definitivamente o oficio pelo que nutre uma paixão verdadeiramente avassaladora, e, ainda hoje, mesmo como entretenimento que não pode dispensar, vai executando alguns trabalhos a amigos e clientes antigos por quem conserva fraternal dedicação. É naquele ano de 1956 que surge para o substituis garbosamente o seu filho Joaquim António Gameiro, digno continuador da sua obra, dotado de excelentes qualidades de energia e de espírito de iniciativa. Não querendo fugir à tradição, segue galhardamente as pisadas do seu mestre seu progenitor, com a mesma fé, com a mesma honestidade e coma mesma isenção, mantendo, assim, brilhante, o nome honrado que possui.

Aplica-se, primeiramente, à mecânica agrícola, mas o seu espírito e a sua visão perfeita das necessidades levam-no, desde logo, a reformar e a modificar racionalmente tudo quanto entendeu susceptível de ser modernizado. Grande parte do capital de que pôde inicialmente dispor foi aplicado na aquisição de maquinaria nova e no ferramental adequado, e esse investimento permite-lhe, com os conhecimentos técnicos de que dispõe, abalançar-se afoitamente a um progressivo desenvolvimento que tem resistido a todos os altos e baixos a que sempre estão sujeitos o comércio e a indústria. Não pára, não se limita à comodidade de uma rotina.

Quer mais, e nesse caminhar sempre em frente lança-se a novos empreendimentos. Aparecem assim, saídas das suas oficinas, onde são fabricadas com zelo e a competência de que o seu nome é sólida garantia as mais modernas alfaias agrícolas, incluindo excelentes e bem concebidas máquinas de pulverizar e de enxofrar que aos vinicultores prestam incalculáveis serviços. Ainda dentro desse espírito renovador que o envolve, monta uma secção especial para reparação e reconstrução de máquinas agrícolas, e dedica-se com entusiasmo à fabricação dos mais modernos reboques. Joaquim Maria António Gameiro, consorciou-se em 1959 com a Sra. Maria Palmira Martinho André Gameiro, e desse enlace existe uma interessante e gentil menina a que foi dado o nome de Tereza Maria e que é o enlevo do feliz casal. «A HORA», ao registar nas suas páginas as biografias destes dois obreiros incansáveis que são Laurentino António Gameiro e seu filho Joaquim Maria António Gameiro, presta uma justa homenagem às qualidades de trabalho sempre evidenciadas por ambos.

Por: António Centeio

«A Hora». Dezembro/1964

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