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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Restaurante "Portal da Vila".


Um cozinheiro que gosta de dar asas à imaginação
O seu dia de trabalho começa cedo e acaba quase sempre tarde.
Às nove da manhã já está envolto entre tachos e panelas. É necessário preparar a comida para quando os clientes chegarem não terem que esperar muito pelo manjar.
Edmundo Simões estava em casa depois da recuperação de um pequeno problema de saúde quando foi convidado para ser o cozinheiro do restaurante “Portal da Vila”, em Alpiarça. A paixão pela cozinha falou mais alto e como não consegue estar parado aceitou o convite. Desde Outubro que faz o percurso entre a vila da Golegã, onde reside, e Alpiarça.
Com 55 anos, Edmundo Simões é cozinheiro profissional há cerca de quatro décadas. Não sabe dizer como começou a paixão pela profissão mas recorda-se de com cerca de dez anos ajudar um senhor de Riachos, concelho de Torres Novas, – terra natal onde viveu em criança – a preparar migas de bacalhau. Com a mãe aprendeu a fazer um arroz doce divinal.
“Sempre demonstrei interesse para aprender a cozinhar. Observava e depois fazia e percebi que tinha jeito. E o mais importante é que gostava mesmo de fazer. Se não se gostar não se consegue porque esta é uma profissão muito complicada e muito absorvente. Exige muito de nós”, explica o cozinheiro.
Quando terminou a escola começou a dar os primeiros passos na profissão. Ao longo dos anos realizou vários cursos de formação e aperfeiçoamento da profissão que escolheu. Trabalhou em alguns restaurantes mas a sua carreira foi feita em hotéis de norte a sul do país como chefe de cozinha.
O seu dia de trabalho começa cedo e acaba quase sempre tarde. Às nove da manhã já está envolto entre tachos e panelas. É necessário preparar a comida para quando os clientes chegarem não terem que esperar muito pelo manjar. “Trabalhamos com comida fresca e é tudo feito no momento mas a preparação tem que ser feita antecipadamente por que senão os clientes ficam muito tempo à espera. Preparamos tudo de modo a que quando os clientes pedem falte dar apenas um toque final”, conta.
O dia de Edmundo Simões é passado quase sempre no restaurante. Umas vezes vai a casa no intervalo entre os almoços e os jantares mas, muitas vezes, opta por ficar no restaurante. “Há sempre qualquer coisa para fazer”, diz. Vai adiantando a comida que vai ser servida à noite e aproveita para fazer os doces. Tortas, pudim, arroz doce, bolos de aniversário. Todos os doces servidos no Portal da Vila são da autoria do cozinheiro. Apesar de não se considerar um doceiro.
O cozinheiro garante que todos os pratos têm muita saída mas a “carne à talim-talão”, “bacalhau à piruex” e as carnes de toiro bravo são as preferidas dos clientes. Neste restaurante confecciona apenas comida tradicional ribatejana. Em alguns pratos, o chefe de cozinha respeita a receita, noutros solta a imaginação e inventa os seus próprios pratos. A inspiração surge no momento da confecção. “Vou experimentando colocar diferentes temperos, de diferentes maneiras e em quantidades variadas. Fica diferente mas muito saboroso. O segredo de tudo está sempre nos temperos que colocamos e a forma como os utilizamos”, confessa.
Edmundo Simões gosta de cozinhar um pouco de tudo mas revela preferência pelos ensopados. De borrego e de enguias. Aliás, toda a comida feita no tacho é aquela que lhe dá mais prazer confeccionar. Amante de boa comida elege a cozinha portuguesa como uma das melhores do mundo. Melhor, melhor, só mesmo a francesa, considera.
A sua hora de almoço é sempre tardia. Nunca antes das 15h00. Só quando os clientes já estão atendidos é que o cozinheiro e os seus colegas se juntam a saborear o repasto que ele próprio confeccionou.
Fins-de-semanas e feriados são os dias mais concorridos. Chegam a sair cerca de oito dezenas de pratos. Uns clientes vão ao restaurante com a ideia de comer determinado prato, outros gostam de ser aconselhados pelo chefe de cozinha ou pelos donos do restaurante. Edmundo Simões gosta de confeccionar os pratos mais elaborados mas tem consciência que os pratos tradicionais, aqueles com que trabalha mais, são mais simples.
Devido ao novo emprego que arranjou não lhe sobra muito tempo para estar em casa. “Só lá vou dormir e é à pressa”, diz em jeito de brincadeira. Mas sempre que os amigos e a família lhe pedem gosta de cozinhar para eles. Adora o que faz e não se imagina a fazer outra coisa mas confessa que também existem dias em que lhe apetece trabalhar menos. Mas, garante que, se puder, vai trabalhar até morrer.
«O Mirante»

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